ADÃO E EVA... NUS NO INVERNO?
Questionado por minha esposa – lá
estão elas, sempre colocando o homem em apuros (brincadeira, meu amor…rs!) –,
tive que reavaliar uma afirmação.
Eu disse: – “Adão e Eva não usavam roupas porque antes do pecado havia um
equilíbrio climático”.
Bem, como o tico e o teco de uma
mulher não sossegam, logo tive que parar para pensar no que havia dito. E, de
fato, graças à percepção crítica de minha amada, tive que repensar o que havia
dito no impulso da retórica.
Mas apesar do erro hermenêutico, tal declaração não estava no todo equivocada porque o
enfoque dado era o desequilíbrio causado pelo pecado, que não podemos
negar que tenha ocorrido, pois nos próprios relatos da queda do Homem são
mencionadas alterações resultantes de maldição quanto ao funcionamento da
natureza (Gênesis 3.16-19). O apóstolo Paulo também fala de um desajuste da
natureza ocasionado pelos pecados humanos (Romanos 8.19-22).
Assim, é correto dizermos que
houve um desequilíbrio natural decorrente do pecado. Porém, tenho que
reconhecer que cometi um erro ao dizer que "a nudez de Adão e Eva era possível
devido ao equilíbrio climático do Éden". Uma lógica equivocada que explico a
seguir.
Bem, a questão levantada por
minha mulher foi: “Você disse que havia um equilíbrio climático que favorecia a
que ambos estivessem nus. Então, você está dizendo que as estações surgiram
depois do pecado?” A resposta óbvia só poderia ser um sonoro “Não!”.
Antes mesmo de haver homem e
mulher, Deus já havia criado os luminares (Sol, Lua e estrelas) que determinam
as estações do ano (Gênesis 1.14). Ou seja, as variações climáticas já estavam
configuradas para que houvessem chuvas, ventos, frio e calor.
Naturalmente, isto me levou a
mais perguntas, do tipo: Como o primeiro casal lidava com o inverno? O fato de
estarem nus significava que estavam impedidos de usar algum tipo de roupa?
1ª Teoria:
É possível que no princípio houvesse um intercâmbio entre o mundo espiritual e o mundo físico, uma vez que é dito que “o Senhor andava pelo jardim” (Gênesis 3.8). Além disso, a referência à “árvore da vida”, mencionada por João numa visão celestial (Apocalipse 22), à presença de “querubins” (seres angelicais que assistem diante da face de Deus) e à “espada flamejante” que guardava o caminho até a árvore da vida (Gênesis 2.9; 3.24) são fortes indícios de que antes da queda não havia separação entre o céu e a terra. Deus estava com o Homem e este com Deus.
1ª Teoria:
É possível que no princípio houvesse um intercâmbio entre o mundo espiritual e o mundo físico, uma vez que é dito que “o Senhor andava pelo jardim” (Gênesis 3.8). Além disso, a referência à “árvore da vida”, mencionada por João numa visão celestial (Apocalipse 22), à presença de “querubins” (seres angelicais que assistem diante da face de Deus) e à “espada flamejante” que guardava o caminho até a árvore da vida (Gênesis 2.9; 3.24) são fortes indícios de que antes da queda não havia separação entre o céu e a terra. Deus estava com o Homem e este com Deus.
Por isso, alguns concluem que
antes da queda homem e mulher possuíam “corpos espirituais” e, portanto, imortais,
vindo posteriormente, ao serem expulsos do Éden, a ter de assumir corpos físicos,
agora sujeitos a sofrimentos e à morte. Assim, seria possível explicar porque
nem frio nem calor os incomodava mesmo estando nus. O clima somente causaria sofrimento
aos seus corpos após o pecado, quando assumiriam corpos físicos.
2ª Teoria:
O fato da serpente ter conseguido
contato e poder de influência sobre a vida do casal (Gn 3.1) pode também ser um
indício de que o Éden fosse um lugar à parte do céu, ou seja, de fato um jardim
plantado na Terra, onde o Senhor visitava o homem regularmente afim de orientá-lo,
porém, resguardando-lhe o direito à certa privacidade com sua mulher.
E neste plano físico, ambos foram
criados com corpos físicos formados com elementos da própria Terra (Gênesis
2.3), que necessitavam de alimento (Gênesis 2.9) e eram capazes de sentir e,
portanto, sujeitos também à dor (Gênesis 2.21). [Vide comentário no fim]
Seguindo a este raciocínio,
considerando que eles possuíam corpos físicos, seria incorreto dizer que frio
ou calor os incomodava se estavam nus? Como lidavam com as sensações térmicas?
Em primeiro lugar, compreendo que
o fato de estarem nus representava simplesmente a condição na qual foram
criados, e não a imposição de um mandamento. O único mandamento de Deus foi
para que não comecem da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gênesis 2.17).
Deus não proibiu homem e mulher de se vestirem, ou se abrigarem, caso sentissem
necessidade. A menção de que utilizaram folhas de figueira para cobrir sua
nudez (Gênesis 3.7) é um forte indício de que eles sabiam se proteger.
Noutro aspecto, podemos dizer que
o uso de algum tipo de roupa poderia ser utilizado pelo casal em dias mais
frios, bem como a possibilidade abrigarem-se junto aos animais, valendo-se de
sua pelagem para aquentar-se, já que os mesmos conviviam em harmonia com o
Homem. Este fato, porém, não mudaria o estilo de vida naturista no qual viviam
o casal. Eles viviam num ambiente plenamente confiável.
A necessidade de se proteger
passa a existir depois que ambos são enganados pela serpente, e sentem-se
culpados diante de Deus. O ambiente confiável fora quebrado, eles mesmos
percebem-se não confiáveis, e envergonhados, escondem-se um do outro (Gênesis
3.7,8). Desde então, homem e mulher jamais se veriam sob o olhar da inocência.
A maldade que invadiu seus corações foi a razão do uso permanente de roupas.
Podemos dizer que este foi o
inverno mais terrível que se abateu sobre a vida do Homem. Mas, é oportuno observar
o cuidado de Deus em vesti-los (Gênesis 3.21). As roupas que foram feitas por
Deus e dadas a Adão e Eva eram também uma maneira de dizer: “Eu não posso
livrá-los das consequências do pecado, a fim de que vocês aprendam a confiar em
mim. Mas, eu posso cobrir a vergonha de vocês, eu posso perdoar a culpa de
vocês. Sou eu quem pode restaurá-los”.
Portanto, respondendo à pergunta inicial,
Adão e Eva não viviam nus porque desfrutavam de um equilíbrio climático, mas,
sim, porque viviam num ambiente de plena confiança entre si e para com Deus. Possuíam,
sim, um intercâmbio perfeito entre a vida espiritual e a vida terrena, que
favorecia a que vivessem constantemente debaixo das orientações de Deus e em
paz consigo mesmos.
Comentário: Aqui faço distinção entre a dor e o sofrimento. Discordo da ideia de que Deus tenha criado seres insensíveis e indolores. Num corpo físico, a dor é um estímulo nervoso de proteção. Ela é um sinal para não extrapolarmos limites que coloquem em risco a integridade do corpo. A questão é que havia dor, mas não havia sofrimento. Podemos chamar o sofrimento de “excesso ou permanência da dor”. Note que, antes do pecado, Deus fez o homem dormir para que não sentisse a dor da retirada de uma costela. Porém, após a queda, o Senhor diz à mulher que sua dor seria "multiplicada" por ocasião da gravidez – somente se multiplica o que já existe. Já o homem, agora sofreria para extrair da terra o seu sustento, algo que antes não precisava fazer, já que no Éden tudo produzia naturalmente.
Comentário: Aqui faço distinção entre a dor e o sofrimento. Discordo da ideia de que Deus tenha criado seres insensíveis e indolores. Num corpo físico, a dor é um estímulo nervoso de proteção. Ela é um sinal para não extrapolarmos limites que coloquem em risco a integridade do corpo. A questão é que havia dor, mas não havia sofrimento. Podemos chamar o sofrimento de “excesso ou permanência da dor”. Note que, antes do pecado, Deus fez o homem dormir para que não sentisse a dor da retirada de uma costela. Porém, após a queda, o Senhor diz à mulher que sua dor seria "multiplicada" por ocasião da gravidez – somente se multiplica o que já existe. Já o homem, agora sofreria para extrair da terra o seu sustento, algo que antes não precisava fazer, já que no Éden tudo produzia naturalmente.
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